Egipto'2021: Presidente da FAAND em entrevista

 

“Angola está ao nível de muitas equipas  que ficaram no meio da tabela classificativa” 

 

A Selecção Nacional masculina de Angola esteve presente na 27.ª dição do Campeonato do Mundo que se disputou no Egipto entre 13 e 31 de Janeiro último. Somou por derrotas todos os desafios, mas em momento nenhum virou cara à luta, tendo rubricado exibições (em todas as primeiras partes) de encher as vistas. Em desporto, mesmo nas derrotas ou principalmente nas derrotas há muitos ensinamentos a tirar. Para fazer o balanço da campanha angolana em terras egípcias, o site da FAAND entrevistou o presidente de Direcção que esteve in situ a acompanhar a equipa de todos os angolanos...

 

- Que balanço faz da campanha da seleção no mundial? 

 

Nós (Federação) classificamos a prestação da seleção masculina neste “Mundial” sendo relativamente positiva. Isto porque, para nós, neste certame, sobretudo porque sabíamos que estariam presentes as melhores equipas do mundo, a questão da classificação, embora importante, não era de forma alguma o nosso objectivo essencial. Por conseguinte, não obstante, reconhecermos que no cômputo dos jogos merecíamos pelo menos obter uma ou duas vitórias, o que certamente iria aumentar a motivação do grupo, ainda assim, devemos sublinhar que a nossa selecção bateu-se de igual para igual com grandes equipas, logo na primeira fase, designadamente; o Qatar, a Croácia (Vice-campeã da Europa) e o Japão, equipa que nos venceu tangencialmente por um golo...

 

- A Equipa esteve sempre no quase e perdeu com adversários, com os quais não devia perder. Em sua opinião, o que faltou?

 

De facto, perdemos também tangencialmente contra o Congo, equipa que teoricamente é inferior ao nosso combinado. Na verdade, do nosso ponto de vista foi um jogo também bem disputado, sendo que neste desafio a vitória esteve perfeitamente ao alcance de Angola. Mas importa recordar que a maior parte dos jogadores do Congo evolui na Europa. Este talvez tenha sido o único jogo que sentimos que poderíamos ter feito um pouco mais.  Com relação ao nosso último jogo contra a equipa de Marrocos, a nossa Selecção esteve à frente do marcador a maior parte do tempo da partida, tendo feito um excelente jogo. Ainda estávamos a vencer por 27-26, quando faltavam 10 segundos para o apito final do jogo. Mas enfim, consentimos que o adversário beneficiasse de uma livre de sete metros (penálti), a três segundos do fim, o que resultou num empate ao final dos 60 minutos regulamentares. Perdemos depois na sequência da marcação de grandes penalidades...

 

- A Equipa esteve sempre no quase e perdeu com adversários, com os quais não devia perder. Em sua opinião, o que faltou?

 

Na verdade, justamente por isto é que nós, ao avaliarmos a nossa prestação neste mundial, de forma alguma consideramos de negativa. Isto porque claramente fizemos bons jogos e boas exibições contra fortes equipas, como aliás já disse anteriormente.  Com isto não quero obviamente desvalorizar a importância das vitórias, mas estou apenas a valorizar o nível de andebol apresentado pelo conjunto angolano, que em abono da verdade, está ao mesmo nível de muitas equipas que ficaram no meio da tabela da classificação final. Este facto para nós é importante, porque é um sinal que com mais trabalho certamente iremos obter os resultados e objectivos que traçamos no nosso programa, a médio e longo prazos. Com relação propriamente à pergunta que me coloca, nós dissemos que a grande diferença entre a nossa equipa e grande parte dos nossos adversários consistiu no facto de a nossa seleção, não obstante ter um bom leque de jogadores, ter demonstrado falta de rotinas. As rotinas nos desportos colectivos são factores decisivos e estamos certos que a nossa equipa técnica vai trabalhar nestes aspectos futuramente. A nossa equipa técnica vai certamente trabalhar nos aspectos técnico e tático para que a nossa selecção se torne mais consistente também nos minutos derradeiros do jogo...

 

 

- Em quase todos os jogos a seleção esteve bem, até faltar mais ou menos cinco minutos. Mesmo com a Croácia esteve ao mais alto nível até aos 55 minutos. O que há concretamente com os nossos jogadores?

 

De facto, perdemos também tangencialmente contra o Congo, equipa que teoricamente é inferior ao nosso combinado. Na verdade, do nosso ponto de vista foi um jogo também bem disputado, sendo que neste desafio a vitória esteve perfeitamente ao alcance de Angola. Mas importa recordar que a maior parte dos jogadores do Congo evolui na Europa. Este talvez tenha sido o único jogo que sentimos que poderíamos ter feito um pouco mais.  Com relação ao nosso último jogo contra a equipa de Marrocos, a nossa Selecção esteve à frente do marcador a maior parte do tempo da partida, tendo feito um excelente jogo. Ainda estávamos a vencer por 27-26, quando faltavam 10 segundos para o apito final do jogo. Mas enfim, consentimos que o adversário beneficiasse de uma livre de sete metros (penálti), a três segundos do fim, o que resultou num empate ao final dos 60 minutos regulamentares. Perdemos depois na sequência da marcação de grandes penalidades...

 

- Fica com a sensação que se podia ter feito mais na maior parte dos jogos?


Sim. De facto, se compararmos o nível de andebol praticado pela equipa angolana com as equipas adversárias, ficamos com a sensação de que se tivéssemos mais rotinas e consequentemente maior consistência, poderíamos ter feito um pouco mais. Isto porque quem acompanhou de perto os jogos, constatou a evidência que Angola perdeu nos pequenos detalhes. Por essa razão, é que insistimos que a nossa participação, em termos competitivos foi bob um determinado ponto de vista positiva.


- No meio destes resultados negativos, o que tira de positivo desta campanha?


Pois, excepto a falta de uma ou duas vitórias, consideramos que tudo o resto foi positivo. As condições criadas em tempos de Pandemia foram óptimas. Muitos disseram “que mesmo em tempos de pandemia, até Cabo Verde foi estagiar a Portugal e Angola não conseguiu”. Cabo Verde pagou um preço muito alto por ter estagiado em Portugal. Isto é, não conseguiu competir. É verdade que jogos de controle teriam nos dados mais rotinas, mas o desporto só pode ser praticado com jogadores saudáveis. Daí termos optado pela via mais segura. Fizemos um bom estágio no Lubango. Por outro lado, nós levamos para este mundial alguns jogadores muito jovens, entre 18 a 21 anos, para estes terá sido certamente uma boa experiência e mais-valia para as futuras competições. Também tendo sido a primeira delegação deste novo elenco federativo, foi positivo notar que não foi registado no grupo quaisquer casos de indisciplina. Antes pelo contrário, foi notório e evidente a coesão e espirito de entre-ajuda reinante no balneário da equipa.


- Como foi preparar um “Mundial” em cerca de um mês?


Tivemos pouco tempo, de facto. Cerca de um mês e uma semana. Como sabe durante o ano de 2020, não tendo havido actividade desportiva, também não houve patrocínios. Por conseguinte, partimos do zero. Tivemos que trabalhar rapidamente na escolha da equipa técnica, na preparação do estágio da seleção na província da Huíla, na compra de equipamentos, no tratamento das viagens. Enfim, trabalhamos arduamente num caderno de encargos sobre todas actividades necessárias e respectivos custos, que submetemos ao MINJUD, que prontamente atendeu satisfatoriamente à nossa solicitação. Aproveitamos, mais uma vez, para agradecer o apoio e o carinho que a nossa seleção recebeu do Governo e da população da Huila.


- Que futuro augura para a nossa selecção, visto que estão de saída alguns jogadores?


Nós consideramos que temos uma seleção com potencial para vingar em Africa e em palcos internacionais. Precisamos de trabalhar mais e melhor, fazer alguns ciclos de preparação durante o ano e estamos convictos que iremos atingir os objectivos traçados no nosso programa, que se consubstanciam na subida um pódio africano masculino durante este mandato, tendo em atenção que no último campeonato continental, na Tunísia, fomos quartos classificados. Eu diria mesmo que neste momento, exceptuando o Egipto, Angola tem condições de jogar de igual para igual contra qualquer equipa de top africana. Também como disse anteriormente, nós temos muitos jogadores jovens e os que estão de saída provavelmente não serão mais do que dois ou três. Assim sendo, temos a continuidade geracional assegurada.


- Houve sectores do andebol que questionaram a indicação do técnico para a equipa, defendendo que deveria continuar quem a qualificou para o “Mundial”. O que se lhe oferece dizer sobre isso?


Nós pensamos que esta teoria do apuramento não faz qualquer sentido. Não há nenhum protocolo nacional, continental ou mundial que nos obrigue a isso. Primeiro porque desde o apuramento até ao Mundial passou cerca de um ano e os jogadores estiveram parados. Segundo porque se assim fosse, também deveríamos aplicar a mesma teoria aos jogadores, independentemente de estarem em boa forma ou não. Agora é normal que as pessoas prefiram este ou aquele treinador. O que importa sublinhar neste quesito é que o Conselho Directivo da Federação traçou o perfil que pretendia para o Selecionador Nacional e, após ponderação, considerou que neste momento, quer pela sua trajectória e conquistas  no andebol masculino, quer pela sua formação e conhecimentos, o professor José Pereira “Kidó” é o profissional certo, tendo obviamente merecido o aval do Presidente, que é o órgão que em última instância decide. Por conseguinte, até ao presente momento estamos convencidos que escolhemos um bom selecionador, certos que com mais trabalho, a médio e longo prazos teremos os resultados que pretendemos.


- Em termos de competição interna, já há um calendário elaborado? Como serão as provas de seniores, à luz do seu programa eleitoral que defende o aumento do volume de jogos?


Nós estamos seriamente apostados na competição interna. Aliás defendemos que aqui reside a base do desenvolvimento do andebol. Tendo uma boa competição interna, alargada e competitiva, seguramente que iremos colher melhores resultados na competição externa. Como é do conhecimento geral, a pandemia que assola o país e o Mundo paralisou as actividades desportivas durante o ano de 2020. Agora a nossa prioridade é retornar ao jogo ainda no presente mês de Fevereiro. Apesar de ainda existirem vários constrangimentos, sobretudo ao nível dos custos dos testes da Covid’19 para as equipas, oficiais, árbitros, cronometristas, etc, é importante reatar os jogos de andebol. Pretendemos realizar as provas de seniores, pelo menos ao nível nacional, com o maior número de jogos possível. Embora já tenhamos um calendário elaborado, ainda teremos que ajustá-lo a algumas provas internacionais. Com relação às camadas mais jovens pretendemos ajustá-lo a nova programação lectiva escolar, mas trata-se de um assunto que ainda precisa ser aprimorado junto dos nossos associados, que no fundo são os fazedores do andebol.


- Como foram os contactos com os dirigentes da Confederação africana de Andebol (CAHB) e da Federação Internacional de Andebol (IHF)? O que Angola pode esperar destas duas instituições?


Nós tivemos um encontro de trabalho demorado com o Presidente da CAHB, Mansourou Aremou, no qual passamos em revista as relações institucionais entre ambas organizações. Neste encontro, o presidente Mansourou Aremou disse que Angola já é uma potência no andebol feminino em Africa, sublinhando que ficou agradavelmente surpreendido pelo bom nível de andebol apresentado pela seleção masculina, acrescentado que também os masculinos de Angola iriam ter uma palavra marcante na arena africana. Prometeu o apoio da CAHB à FAAND, quer em termos de formação quer em termos de promoção de quadros angolanos, tanto ao nível da CAHB como da IHF. A reunião que decorreu num ambiente de franca abertura serviu também para apresentarmos o nosso programa para o quadriénio 2020/2024. De igual modo, tivemos vários encontros de trabalho, mesmo ao nível das questões inerentes ao mundial, com vários executivos e membros do Conselho Diretivo da IHF.